
Entre chegadas e saídas...
Todos os dias, desde o início eu me dizia: Vai passar! Nem sequer me lembro mais qual foi este primeiro, só sei que foi deste que vieram todos os outros. Um dia era, no outro não mais! Noites perdidas por alguém que me perdeu. Foi tão rápida essa sua mudança que nem deu tempo de eu me avisar, e foram tão longas suas falas ocultas... Acho que começou com um Você não... Penso que foi. É... Certamente. Apenas acordei um dia e tudo havia mudado. Ignorei. “É um excesso de proteção” disse eu á mim. Vai passar.
Disse-lhe “oi” como sempre, e no momento que iria completar dizendo “como vai” percebi que a sua resposta havia sido um vazio. Olhou-me sem ver e respondeu á nada. Depois daí, o nada virou tudo, tudo que não era sim. Suas mãos agrediam-me quando passaram a não segurar mais nas minhas. Mesmo assim, lá vinha você, com uma nítida impaciência fazer o que ainda lhe era obrigação não sei por qual causa ou sentimento restante: Abraçar-me. Aqui ainda havia os abraços... Os mais distantes que já tive! Tentei correr para diminuir a distância, mas você voava na direção oposta. Repeti: é uma fase e a amizade deve ser respeitada. Vai passar...
Vez e outra ainda via uma tentativa de não fazer nada daquilo a mim, mas, por nenhum motivo [é o que prefiro acreditar], aquela impaciência tornou-se uma repulsa e com ela vieram às palavras... As palavras e um muro. Tentei pulá-lo da pior maneira possível, diminuindo-me, e é claro, que ele ficou maior do que era. Nesse momento, inconscientemente você teve certeza de que podia fazer comigo qualquer coisa, que ainda prevaleceria meu amor de amigo. Não o culpo por isso, quando sabemos do tamanho da tolerância de alguém tendemos a não nos preocupar mais.
Acho que foi meu contexto histórico. Sim, a culpa era minha! Não devia sofrer pelo que a vida momentaneamente estava me tirando. Segundo você. Isso deve ter-lhe cansado demais. Não sei o por quê, mas tudo o que eu não precisava era que você se cansasse. Não da forma que demonstrou o cansaço. Você não sabe o quanto podia ter me ajudado. Ou sabia e não quis. Nunca desejo receber de volta o que dou as pessoas, mas isso é mais do que posso aceitar. A culpa é minha. Deve ser. Devo entender que algo lhe impede de ser como antes. Eu me repetia: é somente uma questão de tempo. Espero que passe.
A distância tomou enormes proporções. As únicas coisas que passavam agora pelo muro eram pequenas e inofensivas letrinhas. Inofensivas até resolverem se juntar nas piores palavras, prontas para queimar, e a sua satisfação em vê-las me cortando foi bem mais doloroso e ainda é.
Você não é... ; Não vai... ; Não pode... ; Não sabe... ; Não é nada... ; Você ainda tem o outro pulso... Tudo isso com um sorriso entre os lábios de quem têm certeza que não faz bem. Fui afundando e você se prontificou a cavar o buraco. Gritei várias vezes em meus silêncios: Dá-me um tiro no peito para que eu não tenha que sentir tudo isso. Parte logo o coração que te dei ao invés de fincar-lhe agulhas quentes.
Passei a não entender o que tinha feito. “O que eu fiz?”; “O que eu falei?”... O encanto passou. Acho que você confundiu simpatia com amizade e ficou com vergonha de me contar. Sei que sofro por esquecer que nem todos amam como eu. Não tratam de coisas com a importância que eu acredito que tenham que ter. E nem devem. Neste sentido posso dizer que a culpa é realmente minha. Não cobro esta reciprocidade, mas o amor próprio um dia se manifesta. De oi amiga para ô menina. Ainda sim o meu amor próprio queria me convencer de que eu é que dramatizo demais. “Não há nada de errado, você está exagerando”. Não, a culpa não é minha. Desesperei e repetia: Estou mal com isso tudo. Tem que passar...
Te amava antes de você machucar -você me disse- Você é boba -repetiu inúmeras vezes- Professorinha como a sua mãe -a pior de todas pra mim. Não a culpa não é minha! Tentei pular o muro, escalar. Cortei-me, rasguei-me, cai, suei, chorei. Nada adiantou, ele cresceu. A repulsa ficou, permaneceu, permanece. Repeti a mim: “Não vai passar... O que faço agora?”. É triste ver você partir sem remorsos. Queria pelo menos a chance de entender tudo isso, e lhe contar o que estou sentindo, mas você me negou. Nada posso fazer a não ser olhar a distância se aumentando cada dia mais.
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