A campanhia toca, escuto o portão abrir. É ela, só preciso de um som pra confirmar as batidas aceleradas do coração. Escuto sua voz (ainda escutei durante muito tempo). Sim é ela, paro tudo, saio correndo com o coração tentando acompanhar a velocidade dos pés. Euforia no último grau. Quando os olhos confirmavam toda a certeza que batia no peito de que você tinha chegado, os lábios logo reagiam com uma enorme satisfação estampada. Lembro da sensação como se fosse hoje... Era tão bom ver você chegar, sentar no sofá e sorrir pra mim! Prestava atenção em todos os seus movimentos, nas suas expressões, nas olhadas que se dirigiam a mim. Compartilhávamos falas interas pelo toque, pelos olhos, pelo cheiro. Meu porto. Seguro. Doido. Doído. E não importava quantas vezes você batesse á porta, em todas elas o coração batia forte e tudo começava de novo.
Às vezes não existe uma explicação pra se gostar de alguém. Na verdade, gostar não tem uma explicação, amar não é algo que se explique. Foi feito pra sentir. E era isso que eu sentia, sinto. Mas era e é um amor diferente. Um amor que faz questão de existir, de ser lembrado toda vez que te encontrava. Como se ele sempre batesse forte no peito pra lembrar que estava ali, vivo, fervendo, querendo sair e ser retribuído.
E simples assim! Apenas gostar e gostar mais... Ainda que fosse pesado, contrariado pelo amor próprio. Por muito tempo nocivo, mas muito bem entendido depois de uns anos... Enraizado, mudado, amadurecido, mas ainda assim, vivo, borbulhando de precipitações, palpitações no peito...
Difícil não se perguntar os “por quês”. Por alguma razão a gente perde as coisas que mais ama. (Até pecado chamar de coisa). Por alguma razão nos é tirado tudo. Por alguma razão você se foi. Não me interessa saber os motivos, me interessa o que ficou: vazio. Um desejo. Ta sobrando, to sem força pra aparar as sobras... Amor que se esfrega no meu rosto lembrando que ainda está ali com a mesma vivacidade. Ele continua intacto, desesperado, se distorcendo em outras pessoas.
Durante muito tempo eu ainda ouvia você pela casa, ainda guardava os melhores segredos pra te contar. Ria um riso sem graça pra mim mesma quando percebia que não era sua voz que eu escutava, mas o choro do meu coração.
Ainda assim acredito no amor, ainda assim repeti as batidas borbulhantes, de uma forma doida e cruel, comigo. Com o próprio.
Parece insano sentir algo assim por alguém, sentir uma paixão pura, pura por simplesmente ser, sem teor erótico ou sexual, apenas... isso. E o problema não está em sentir essa palpitação que grita em maiúsculas que está ali, a parte ruim é sufocar um outro amor que existe dentro da gente, o amor próprio. No fim é tudo uma coisa só porque a dor não se divide nem faz o coração entender de quem é a culpa.
A culpa é minha, não do amor, não do sentimento, não da vivacidade das coisas. A beleza de simplesmente amar sem ter que ter um segundo nome pra isso, pai, mãe, tia, irmão, amigo, homem, mulher. Nada que justifique, porque esses nomes não são um complemento, são uma bengala. É de coração para coração. Alma pra alma, mesmo que da outra parte não seja tão puro assim. Apenas sei que preciso aprender a amar doendo menos, me importando menos, justamente para que eu ame mais. Para que me amem mais.
Acho que eu preferiria resolver equações de matemática...
