domingo, 31 de julho de 2011

Os dias...





Dias de ceticismo.
Puro temor, crises intermináveis de consciência. Dias de horror, dias de compaixão. Entre um e outro nenhuma pausa...Momentos de loucura,desespero, a incerteza ronda os bons sonos,a angústia substitui o ar que antes mantinha vivo o corpo.É um desejo de sentido que toma ,uma prece.


Instantes de alegria...
Euforia,liberdade!
Efêmeras.
O tempo suficiente da ilusão.



De todos
Esses,
os dias de completa inexpressão de vida,
são os piores.

São dias de nada, onde nenhuma solução existe, nenhuma luz no fim do túnel, nem os piores sentimentos assolam a mente e o corpo. São os mais pavorosos dias que se pode viver, ou existir, ou sobreviver.
Depois, quando se volta de qualquer que seja esse lugar do nada, os dias de temor não parecem tão ruins, pois o temor te leva a crer. Os dias de consciência não são tão longos porque fazem você ter esperança.
Os dias de horror fazem você querer a beleza- não a beleza do sistema, mas a beleza das coisas- as simples. Compaixão diz á você que nem tudo está perdido. A loucura trás a realidade, a incerteza move o mundo e te faz vivo. A angústia só existe em quem é bom. A alegria precisa da tristeza, a liberdade da repressão.

E o desejo, o desejo é o desejo.

Somente os dias de inexpressão são realmente perigosos. Nem vida nem morte. Perder o medo se torna terrivelmente desastroso. São dias em que não se espera, não se respira, não se revolta, não se alegra, não se vive, nem o medo de viver ou morrer pode salvar o que restou.

Dias em que se perde o medo das picadas de abelhas.







.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O que faz um ator ser ator ! ?



Começo dizendo que não acredito em fórmulas e conceitos prontos, que não acredito em uma resposta universal para tal questão e que nem mesmo acredito que esta tenha que ter mesmo uma resposta, por isso, tudo que aqui for considerado é única e exclusivamente a minha opinião. Considero, portanto, que a principal questão não está em o que faz um ator ser ator, e sim no que faz um artista ser artista.

...
Como nós atores podemos nos tornar artistas e levar a nossa arte ao propósito a que foi colocada? Isso é uma pergunta que gera milhões de questões mais nenhuma resposta fechada, até mesmo porque, a própria arte perderia um pouco de sua beleza se fosse rotulada. Ainda assim a arte, para que seja viva, para que seja crível a quem aprecia, precisa ser viva e crível para quem a faz, por isso, existe a necessidade de nos apoiamos em algumas teorias e reflexões para se fazer compreender e sentir em nós mesmos essa arte, assim como em todas as questões humanas.
...

Não acredito que conceituar as coisas e defini-las seja ruim, no sentido de que, se decidimos utilizar como forma de comunicação a escrita, a fala, temos que obrigatoriamente nomear o que vemos, o que sentimos e o que vivemos para que esta comunicação seja possível. Emitimos códigos, o que não quer dizer que temos que taxar e rotular tudo de forma genérica. Nomear não significa reduzir a beleza e a profundidade das coisas, apenas cabe a pessoa que as diz saber e ter consciência de que não precisa ser de fato vazio ou raso o que se pronuncia, o que se conceitua. A arte da reflexão está em saber considerar e adquirir posturas diante das situações, pois, ser contrário as rotulações também te rotula em algum lugar.

...
Acredito fervorosamente que a arte mora nas diferenças, que as possibilidades moram nas diferenças e de pouco, (repito pouco e não nada) adianta nos atentarmos ás semelhanças que existem nas coisas se não sabemos tirar delas nada além das próprias semelhanças e não consideramos a beleza de existir nas diferenças. Claro que é importante chamar a atenção para o que no fim das contas se resume em igualdade para aqueles que insistem em negar as coisas apenas pelas suas diversidades. Ser diferente não significa negar o que não é igual. No teatro e na teoria de uma forma geral, tendemos a negar as coisas quando elas se tornam diferentes quando na verdade deveríamos pensar que tudo não passa de “mais um ponto de vista”. A tarefa é sempre acrescer e não diminuir as possibilidades. A beleza da arte está na diferença. É exatamente porque existem diferentes técnicas de pintura, que um Portinari será sempre um Portinari e um Picasso será sempre um Picasso, mesmo que estes compartilhem das mesmas telas e tintas. É exatamente porque defino teatro e dança como duas coisas diferentes que tenho a possibilidade de fazer delas uma outra coisa, de juntar, de separar, de criar uma nova coisa, e nem por isso, estou considerando que o teatro e dança são de acordo a alguém, ou a um livro, ou a um conceito generalizado. E em momento preocupo-me em definir e nomear essas diferenças preocupo-me apenas em senti-las. Nós somos capazes de sentir quando as coisas são diferentes, simplesmente sentimos, e algo tão subjetivo como sentir se torna muito concreto e às vezes até tangível.

...
A limitação ao estabelecer diferenças só existe para quem quer que exista. É como se ao invés de reter-me ao fato de que tudo é no fim cor, eu me preocupasse mais em pensar que o amarelo é o amarelo e o azul é o azul, e que o verde, o verde é o que eu posso fazer quando misturo essas duas cores. Como se o verde só fosse possível porque existe o azul e o amarelo. Pensar assim, considerar a beleza do azul e do amarelo, não exclui suas possibilidades dentro de suas definições/diferenças, pois, existem infinitos tons de azul e igualmente, infinitos tons de amarelo. Da mesma forma vejo a arte, que para mim, seria a possibilidade de fazer o verde, de ser o verde em seus infinitos tons.

...
Ninguém precisa se limitar aos conceitos que não são seus. Os livros estão ai para mostrar-nos os pontos de vistas das pessoas que os escreveram para que nós possamos ter mais clareza para criar o nosso próprio ponto de vista. Concordo que no mundo onde vivemos somos obrigados a tomar como verdade algumas coisas que nem ao menos são nossas, mas, isso não nos impede que por detrás da sociedade e da burocracia, realmente tomemos como base aquilo que de fato nos importa de tudo isso que recebemos como bombas de informações e verdades absolutas.

...
A arte consiste em aceitar e ser aceito. A arte consiste em técnica, seja para o que for à prosposta da sua arte, e quando digo técnica, digo qualquer coisa que sirva como tal para quem age, pois a arte em minha opinião é sempre uma ação. Nada e nem ninguém me impede de usar a matemática para fazer chegar à forma de arte a que me propus a fazer, que no meu caso, é atuar. Posso atuar de sapatilhas de ponta, posso atuar usando a física. Nada me impede de fazer isso, no entanto, as pessoas costumam se impedir e por a culpa nos livros e no sistema quando na verdade, eles nunca obrigaram ninguém a realmente fazer o que deseja que não seja de coração, eles dificultam, incomodam, mas podem ser burlados no bom sentido. Normalmente, e não querendo rotular nem prender nada a uma regra, as pessoas, tomam como teoria de vida a teoria de alguém e esquecem-se de fazerem as próprias. Toda regra tem sua exceção e isso para mim esclarece tudo e acaba com qualquer certeza que se tenha tão fechada sobre a vida.

...
Ser artista é utilizar o que quer que seja a favor da sua arte, e quando isso acontece, é inegável a “justeza” de seus atos. A consciência faz o artista. A reflexão faz o artista. A preocupação e o empenho em fazer o melhor perante aquilo que nós mesmos e somente nós mesmos escolhemos fazer caracteriza a natureza do artista. Um artista compartilha sua arte, e um bom artista, se importa com a forma que essa arte vai chegar ao próximo. A arte foi feita para ser apreciada, e para isso há de ser considerar o máximo de empenho em fornecer essa apreciação. Digo isso porque a arte não se resume em fazer apenas o que se tem vontade e nada mais. Ser artista é uma das coisas mais complicadas e paradoxais e difíceis em todas as suas derivações de se fazer. Arte significa respeito.

...
Entregar-se ao desconhecido é preciso uma coragem extraordinariamente vital para que a arte aconteça. Ser honesto consigo mesmo e com quem divide contigo, a sua humilde e calorosa arte. É reconhecer e refletir. Refletir não porque a sociedade impõe, mas porque a sua natureza de ser humano lhe permite. Ser artista é um exercício que se trabalha em si mesmo. É a aceitação do eu e do eu no mundo através de uma ação que é capaz de transformar, não só a você mesmo, mas todo o resto, em uma proporção assustadoramente possível e necessária para que o mundo sobreviva. O mundo precisa da humildade do artista, da nobreza em ser humilde que a arte possui. Precisa do calor da arte, precisa do amor da arte, precisa de respirar os gritos de socorro e de alegria que a arte traduz do próprio mundo, dos próprios eus que habitam a terra.
Arte, ser artista é ouvir, ver e sentir o que a vida nos dá. É contar para o mundo o que vemos dele. Contar o nosso ponto de vista. Contar o que somos. E se alguém desenvolveu técnicas para alcançar a utopia dessas reflexões, que bom! Pois serão nelas que me apoiarei, serão delas que extrairei o que pode viver em mim e na minha arte. Serão delas que virão os meus melhores eus. E não me importa que sejam da dança, do teatro, da biologia, da filosofia, me importa que elas sejam, que elas desesperadamente sejam uma urgência para mim mesma e conseqüentemente para a arte que escolhi viver e fazer, para a arte que sou, pelo que sou através da arte


...